quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Almas perfumadas

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas,pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.

Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está dançando conosco de rostinho colado. E a gente ri grande que nem menino arteiro.

Ana Cláudia Saldanha Jácomo
O bem é maioria, porém não se nota porque é silencioso.
Uma bomba faz mais barulho que uma carícia, porém, para cada bomba que destrói, há milhões de carícias que alimentam a vida...
Facundo Cabral

O bebê "PIG" (Pequeno para a Idade Gestacional)

Um recém-nascido (prematuro, a termo ou pósmaturo) que é menor que o normal para o tempo que permaneceu no interior do útero é considerado pequeno para a idade gestacional (PIG). Um recém-nascido pode ser pequeno ao nascimento devido a fatores hereditários (pais pequenos ou um distúrbio genético) ou de um mau funcionamento da placenta, com a provisão de uma quantidade insuficiente de nutrientes e de oxigênio ao feto). A placenta pode ter funcionado mal pelo fato da mãe apresentar hipertensão arterial, uma doença renal ou um diabetes crônico durante a gestação. As mães com adição a narcóticos ou à cocaína, fazem uso abusivo de bebidas alcoólicas ou que são tabagistas também tendem a gerar crianças pequenas para a idade gestacional. Menos comumente, a infecção materna ou fetal pelo citomegalovírus, pelo vírus da rubéola ou pelo Toxoplasma gondii interfere no crescimento fetal.

     Apesar de seu tamanho, os lactentes pequenos para a idade gestacional geralmente parecem- se e comportam-se de modo muito semelhante aos lactentes de tamanho normal com a mesma idade gestacional. Ao contrário de um recém-nascido prematuro, o pequeno para a idade gestacional que chegou ao termo apresenta os órgãos internos completamente desenvolvidos. Quando o crescimento do lactente foi retardado por causa de uma nutrição inadequada intra-uterina, o seu crescimento pode ser rapidamente recuperado após o parto quando lhe é provida uma nutrição adequada.

     Um feto que cresceu lentamente devido a uma má função placentária pode não receber uma quantidade adequada de oxigênio durante o trabalho de parto. Durante cada contração, as artérias da mãe que nutrem a placenta são comprimidas ao passarem através da parede uterina e, conseqüentemente, o fluxo sangüíneo através desses vasos é menor. No caso da função placentária ser limítrofe antes do parto, o menor suprimento sangüíneo durante o trabalho de parto pode comprometer o suprimento de oxigênio e acarretar lesão fetal. Normalmente, a freqüência cardíaca fetal diminui durante as contrações do trabalho de parto. Uma freqüência cardíaca que demora para voltar ao normal (aceleração tardia) ou que não varia quando o feto se move sugere um suprimento inadequado de oxigênio. Quando existem evidências de sofrimento fetal, o parto deve ser realizado rapidamente, freqüentemente através de uma cesariana.
Um concepto privado de oxigênio durante o trabalho de parto pode eliminar o mecônio (evacuação antes do nascimento) no líquido amniótico. Quando ele aspira o líquido contendo o mecônio, seus pulmões são comprometidos. O mecônio pode obstruir alguns brônquios, provocando o colapso de áreas pulmonares. O mecônio aspirado para os pulmões também pode causar inflamação ou pneumonite. Ambos os problemas comprometem a função pulmonar.
Como o recém-nascido pós-maturo, o pequeno para a idade gestacional tem uma maior propensão a apresentar concentração sérica baixa de açúcar (glicose), uma condição denominada hipoglicemia, nas primeiras horas ou dias após o parto, pois ele ainda não armazenou muita glicose durante a gestação.



Diabetes Mellitus


Atenção!!!
Hoje eu quero a rua cheia de sorrisos francos
De rostos serenos, de palavras soltas
Eu quero a rua toda parecendo louca
Com gente gritando e se abraçando ao sol
Hoje eu quero ver a bola da criança livre
Quero ver os sonhos todos nas janelas
Quero ver vocês andando por aí
Hoje eu vou pedir desculpas pelo que eu não disse
Eu até desculpo o que você falou
Eu quero ver meu coração no seu sorriso
E no olho da tarde a primeira luz
Hoje eu quero que os boêmios gritem bem mais alto
Eu quero um carnaval no engarrafamento
E que dez mil estrelas vão riscando o céu
Buscando a sua casa no amanhecer
Hoje eu vou fazer barulho pela madrugada
Rasgar a noite escura como um lampião
Eu vou fazer seresta na sua calçada
Eu vou fazer misérias no seu coração
Hoje eu quero que os poetas dancem pela rua
Pra escrever a música sem pretensão
Eu quero que as buzinas toquem flauta-doce
E que triunfe a força da imaginação
Oswaldo Montenegro
Mais uma dose? É claro!
É claro que eu tô a fim
A noite nunca tem fim
Por que quê a gente é assim?

... Agora fica comigo
E não, não
Não desgruda de mim
Vê se ao menos me engole
Não me mastigue assim...

Canibais de nós mesmos
Antes que a terra nos coma
Cem gramas, sem dramas
Por que quê a gente é assim?

Mais uma dose? É claro!
É claro que eu tô a fim
A noite nunca tem fim
Por que quê a gente é assim?

Você tem exatamente
Três mil horas
Prá parar de me beijar
Meu bem, você tem tudo
Tudo prá me conquistar...

Você tem apenas um segundo
Um segundo
Prá aprender a me amar
Você tem a vida inteira
Baby!
A vida inteira
Prá me devorar...

Agora fica comigo
E não, não
Não desgruda de mim
Vê se ao menos me engole
Não me mastigue assim...

Você tem exatamente
Três mil horas
Prá parar de me beijar
Meu bem, você tem tudo
Tudo prá me conquistar...

Você tem apenas um segundo
Um segundo
Prá aprender a me amar
Você tem a vida inteira
A vida inteira
Prá me devorar...
Uma vida sem amor é uma vida sem sentido
Estarei feliz aonde for se você estiver comigo
A vida já me derrubou
A vida já me deu abrigo
Mas a vida já me situou
Que a solidão não faz sentido!
Charlie Brown Jr

Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
...
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse.

Composição: Zé da Luz
 

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Fisiologia Cardiovascular

O músculo cardíaco – o coração como uma bomba.
- Átrio funciona como um “primer pump” impulsionando o sangue para o ventrículo.
- Músculo cardíaco estriado.
- Envolto por fibras conjuntivas:
    - Endocárdio;
    - Miocárido;
    - Epicárdio (pericárdio)

- Sincício: estruturas chamadas de discos intercalares permitem fluxo de íons através das células musculares.
- Formado por 2 sincícios:
    - Sincício atrial
    - Sincício ventricular

Os potenciais de ação só podem ser transmitidos entre o átrio e o ventrículo através do feixe atrioventricular (ou feixe de His). Este sistema permite que o átrio se contraia pouco antes do ventrículo.
A freqüência cardíaca aumentada faz com que o tempo de contração-relaxamento do coração seja diminuído, não enchendo portanto, suas cavidades.
Ciclo cardíaco -
- De sístole a sístole = 1 ciclo cardíaco.
- Eletrocardiograma: registro de voltagem elétrica do coração. A onda P é causada pela dispersão de despolarização pelos átrios, seguido da contração atrial (pequena elevação da pressão arterial). Surge o complexo QRS = início da despolarização ventricular seguido pela contração ventricular. Ondas T terminam o processo mostrando a repolarização ventricular.

Obs. Em situações de dispnéia pode estar havendo falência atrial.
Sístole = 1/3 tempo ----------- Pressão = 120mmHg
Diástole = 2/3 tempo --------- Pressão = 80mmHg

Cálculo da pressão arterial média –
Leva-se em conta os diferentes tempos de sístole e diástole.
Válvulas cardíacas –
- Atrioventriculares (A-V) são:
    - Tricúspide (entre átrio direito e ventrículo direito).
    - Mitral (entre átrio esquerdo e ventrículo esquerdo).

- Semilunares:
    - Aórtica.
    - Pulmonar.

Estas válvulas impedem o refluxo do sangue nestas regiões.
Obs. Os músculos papilares e as cordas tendíneas ajudam neste sistema vascular (antirefluxo).
Relação das bulhas cardíacas com o batimento cardíaco –
Quando os ventrículos se contraem, ouve-se um primeiro som ao estetoscópio, causado pelo fechamento das válvulas atrioventriculares = primeira bulha cardíaca.
Quando as válvulas aórticas e pulmonares fecham-se, ao final da sístole = Segunda bulha cardíaca.
Perto do fim do primeiro terço da diástole (turbilhão) = terceira bulha cardíaca (sangue em direção aos ventriculos – quase cheios).
Inervações –
O coração é bem inervado pelo sistema nervoso autônomo simpático e também pelo parassimpático. O simpático forma uma rede de inervações ao redor do músculo cardíaco, já o parassimpático, sob ação do nervo vago, enerva principalmente os nodos.
Os efeitos simpáticos = aumento da freqüência cardíaca; aumento da força de contração do músculo.

Efeito da freqüência cardíaca sobre o funcionamento do coração como bomba –
Em geral: se aumentarmos a freqüência cardíaca, mais sangue será bombeado para a periferia numa maior força devido a regra de Frank-Starling. Esta regra propõe que quanto mais sangue (volume) chega ao músculo cardíaco maior será sua distensão e maior será sua força de sístole.
Temperatura: quanto maior a temperatura do organismo, maior será a freqüência cardíaca. Em pacientes com febre realmente pode-se observar o aumento da freqüência cardíaca.
Circulação: atende às necessidades dos tecidos (nutrientes, líquidos, hormônios).
    - Sistêmica: o mesmo que grande circulação.
    - Pulmonar: o mesmo que pequena circulação.

Componentes:
1) Artérias: transporta o sangue sob alta pressão. Rica em fibras elásticas em sua túnica média.
2) Arteríolas: últimos ramos do sistema arterial. Atuam como válvulas controladoras de sangue, alteram seus diâmetros com facilidade.
3) Capilares: trocam líquidos, nutrientes, gases, hormônios, eletrólitos, etc, com o tecido. São muito finos e permeáveis.
4) Vênulas: recebem o sangue vindo dos capilares.
5) Veias: transportam o sangue para o coração. São os reservatórios de sangue do organismo humano. Possuem paredes bem musculares na túnica adventícia.

Em resumo:
        Veias; vênulas = 64% de sangue.
        Artérias = 13% de sangue.
        Capilares = 7% de sangue.

Área de secção transversa e velocidade do fluxo sangüíneo –
Quanto maior a área de secção transversa, menor será a velocidade do fluxo sangüíneo. São grandezas inversamente proporcionais.

Funcionamento do sistema cardiovascular –
1. “Nunca” o tecido ficará sem seus nutrientes devido aos microvasos.
2. Sinais neurais influem na sua intensidade (débito cardíaco).
3. Pressão arterial é neuronalmente controlada.

Relações entre pressão, fluxo e resistência –
Fluxo (Q) é determinado:
        a) Variações de pressão (mmHg).
        b) Resistência vascular.
Q = ^P / R
Q = mL/min. ou L/min.

A pressão arterial pode ser controlada pelo fluxo multiplicado pela resistência. Como a resistência pouco podemos alterar, a unidade que podemos influir é o fluxo.
Este fluxo por sua vez também é chamado de débito cardíaco (DC) sendo determinado pela multiplicação entre o volume sistólico (VS) e a freqüência cardíaca (FC).
Se o fluxo (débito cardíaco) é determinado por estas duas variantes, a pressão arterial pode ser regulada se influirmos nestas duas variantes. Portanto os diuréticos alteram o volume sistólico, logo, diminuem a pressão arterial quando utilizados. Já os bradicárdicos, diminuem a freqüência cardíaca, diminuindo assim, também a pressão arterial.

DC = Q = VS x FC = ^P/R

Logo:
Pressão Arterial = R x Q = R x DC = R x VS x FC

Fluxo laminar e turbilhonar –
Quanto mais próximo a parede do vaso, menor a velocidade do sangue.
Obs. O manguito de do aparelho de pressão, realiza no vaso o efeito turbilhão (forma uma obstrução).

Pressão Sangüínea –
É a força exercida pelo sangue sobre qualquer unidade de área da parede vascular. A pressão na artéria aorta é em média = 100 mmHg.
O gráfico abaixo mostra a variação das pressão no percurso do sangue pelo organismo humano.

Condutância –
    Sangue percorrendo o vaso sangüíneo.
    É inversamente proporcional à resistência.
    Condutância = 1/resistência
    - Variações muito pequenas no diâmetro dos vasos alteram significativamente a condutância:
    Condutância = Diâmetro4
Esta relação permite que as arteríolas, principalmente, por sinais neurais ou teciduais regulem o fluxo sangüíneo através de suas paredes elásticas.

Distensibilidade vascular –
    - Importante para manter a pressão arterial quase que inalterada;
    - Produzir um, fluxo sangüíneo contínuo para os tecidos (realizado pelas artérias);
    - Acúmulos de sangue dentro das veias (armazenadoras do organismo).
As veias são consideradas complacentes já que armazenam muita quantidade volumétrica de sangue.

Obs. A pressão de pulso, também chamada de diferencial, é determinada pelo débito sistólico e pela complacência arterial.

Em alguns casos patológicos esta pressão de pulso é alterada como por exemplo na aterosclerose, estenose aórtica entre outras.
Em geral: quanto maior a complacência menor será a velocidade do sangue, o que fisicamente é bem evidente.

Pressão venosa central – pressão atrial direita
Se:
    Coração estiver bombeando com eficiência (com força) = pressão venosa central baixa (não haverá resistência à entrada de sangue no ventrículo direito).
    Coração estiver bombeando sem eficiência (sem força) = pressão venosa central alta, podendo indicar uma insuficiência cardíaca.

A pressão venosa central deve marcar 0mmHg ou até –2mmHg.
Obs. Falência das válvulas venosas = veias varicosas.
    Como sabemos as veias contém válvulas que auxiliam no retorno venoso ao coração, pessoas de mais idade é muito comum observarmos as pernas escurecidas, provavelmente estará havendo deficiência destas válvulas. Nestas pessoas, se ficarem em pé por tempo prolongado, poderá haver edema nas extremidades.
    Devemos também lembrar que além da ação das válvulas no retorno venoso, é fundamental a ação da musculatura estriada esquelética.


Eletrocardiograma – ECG
- O eletrocardiograma é um exame muito usado na prática médica para verificar a propagação do impulso nervoso no músculo cardíaco.
- O ECG padrão é composto:
    - Onda P = despolarização atrial.
    - Complexo QRS = despolarização ventricular.
    - Onda T = repolarização ventricular.

Observe o esquema de um ciclo cardíaco (um único complexo).
Intervalos:
- P-R : entre o início da contração atrial e o início da contração ventricular.
- Q-T : Contração ventricular.

Obs. No infarto do miocárdio observa-se o intervalo S-T apresentando um supra desnivelamento.

Algumas patologias associadas:
1. Taquicardia paroxística: ocorre quando o coração, de forma abrupta, entra em taquicardia normalmente devido a um foco ectópico.
Obs. Pressão sobre os olhos ou sobre os seios carotídeos provocam taquicardia, sendo um procedimento clínico utilizado nesta situação.
2. Fibrilação: há contrações desordenadas do coração. Desencadeada por exemplo por choque elétrico ou isquemia do coração.
3. Flutter atrial: muito semelhante a uma fibrilação só que há uma despolarização em círculo (quando um átrio contrai, o outro relaxa).

Abaixo apresento um esquema de um ECG normal de um paciente.

Quem não tem namorado


Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namoro de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.


Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas, namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado, não é que não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter um namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa é quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar.

Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas: de carinho escondido na hora em que passa o filme: de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d'agua, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos e musical da Metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de o seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo, e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e de medo, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras, e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada, e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo da janela.

Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uam névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteira: Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. Enlou-cresça."

(Artur da Távola, em: Amor a sim mesmo)